domingo, 24 de maio de 2020

Relato: A sombra que me perseguia

Imagem por Google
Olá, podem me chamar de Verônica, pois, prefiro não me identificar. Tenho 27 anos. À alguns anos, eu me mudei para uma casa e episódios estranhos começaram a ocorrer comigo. Eu sentia muito sono e não importava o quanto eu dormisse ou quanta cafeína consumisse, continuava com sono, e nada me dava mais prazer que fechar a porta do meu quarto e dormir no escuro. Como estava de férias e não tinha muito o que fazer mesmo, eu aproveitava para me permitir aquela "folga".
         Havia um problema no nosso gerador e, por conta disso, nossa eletricidade era instável. O dono da casa não se preocupava muito em fazer a manutenção. Chamei um eletricista, mas, como ficaria cara para consertar algo que não era meu, deixei por isso mesmo, afinal, não pretendia ficar ali por muito tempo. 
         Eu morava com minha mãe e meu irmão, mas eles não ficavam muito tempo em casa, preferindo ficar na casa da minha avó quando não estavam trabalhando e estudando. Como eu sempre estava cansada, ficava em casa. 
          Às vezes, a eletricidade caía e eu ia para a sala porque ficava com medo, já, que a casa era grande e tinha jeito de mau assombrada. Eu sei, era estranho dormir em um quarto escuro, mas sentir medo quando a luz acabava e eu estava fora do quarto. É que era diferente... Bastava levar a minha mão até o interruptor e apertá-lo e a luz encheria meu quarto novamente. De uma forma estranha, eu me sentia segura ali na sala e era estranho porque normalmente eu não ficava na sala, exceto quando a luz acabava. Imaginava que se a casa fosse de fato, assombrada, o quarto da minha mãe seria o provável lugar onde o espírito ficaria. Não que eu fosse paranoica ou tivesse uma imaginação fértil, mas a cidade onde ficava essa casa, não é raro que pessoas se suicidem. Por pouco, não alugamos uma casa onde um senhor se matou, mas a esposa dele nos contou a história, mas, ainda que não tivesse contado, saberíamos porque ninguém queria alugar a casa por conta disso.
           Eu acabei me acostumando as quedas de luz e até passei a utilizar velas, era um saco, mas não havia jeito. Até que passei a sofrer com paralisia do sono. Era horrível. Eu ouvia as vozes dos meus familiares, mas não conseguia me mover nem abrir os olhos. Passei a ver com frequência, uma sombra que deixava o meu quarto por volta do meio-dia e ia para o quarto da minha mãe. Fiquei na cozinha uma vez, vigiando para ver quando a sombra voltaria para o meu quarto. Levei quase uma semana para descobrir porque sempre me distraía com uma coisa e outra, mas, uma tarde, por volta das seis, eu estava entrando em casa, quando vi a sombra deixando o quarto da minha mãe e indo para o meu. Meu sangue gelou. Então, aquilo ficava no meu quarto comigo até o amanhecer? Fiquei tão assustada, que, por alguns dias, dormi na sala, mas acabei voltando para o quarto porque me sentia muito desconfortável dormindo no sofá, sem contar, que me sentia vigiada.
                No entanto, voltar para o meu quarto, foi, sem dúvida, um erro. Se, antes, eu apenas sofria com a angustiante paralisia em meu corpo, agora, eu podia ver a sombra de um homem alto, parado em um canto, me observando. Eu me desesperava. A cada vez, ele estava mais próximo de mim. Chegou ao ponto de subir em cima de mim e me enforcar. Eu sempre orava nessas horas e era o que me dava forças para me mover e abrir os olhos. Tomei pavor do escuro e parei de dormir com a luz apagada e a porta trancada. Com a luz acesa, ele não vinha e eu dormia em paz, mas, se por qualquer descuido, alguém apagasse a luz, ou eu adormecesse durante o dia e só despertasse à noite, ele me atacava.
             Uma manhã, despertei ao ouvir minha mãe falando com minha avó pelo telefone e, pelo que ouvi, eu fiquei curiosa e ouvi a conversa em silêncio. Minha mãe contou à minha avó que uma senhora que lhe vendeu um frango, lhe falou que o antigo morador daquela casa, foi um traficante, que teria sido baleado na varanda, corrido até a sala e morrido ali. Eu fiquei com muito medo e percebi que a sensação de ser observada, a sombra, a paralisia do sono e todo o resto, não era somente a minha imaginação. A casa era mesmo assombrada. Nos mudamos algum tempo depois e eu levei meses até me permitir dormir novamente no escuro. Foi uma péssima ideia. Aquela sombra voltou e, dessa vez, estava mais agressiva que antes. Apertou o meu pescoço com mais força e eu senti o seu ódio, mas decidi enfrentá-la e pensei com raiva: "Se afaste de mim porque não tenho mais medo de você". Ela recuou imediatamente, quase se tivesse assustada e eu consegui me libertar da paralisia do sono. Porém, naquela mesma noite, eu sonhei com um jovem de pele muito branca, quase pálida, cabelos longos e loiros, vestido com calças de suspensório e uma camisa branca de mangas longas. Ele devia ter entre 19 e 26 anos mais ou menos. Era bonito, mas era visível o rancor e a dor em seu olhar. Ele me disse que era ele, a sombra que me perseguia e que ele, na verdade, estava procurando por minha avó, porque ele a conhecera em outra vida e ela fora seu grande amor. Ele disse que estava ansioso para reencontrá-la e muito feliz, mas, que quando só encontrou a mim em vez dela, ficou furioso. Ele tirou um saco de veludo do bolso e jogou algumas moedas douradas à beira do rio onde estávamos. Eu percebi que ele estava ensopado como se tivesse estado na água. Deduzi que provavelmente, morreu afogado.
             "Eu quis te fazer engolir moeda por moeda", ele me disse com ódio. Lembrei que uma vez, durante a paralisia que sofri, senti algo ser enfiado em minha garganta e não soube o que era, até agora.
           Desaparecemos da beira do rio e no instante seguinte, estávamos no quarto de minha avó, onde ela estava dormindo. O rapaz se deitou ao lado dela e a abraçou, sorrindo. Então, me disse: "Mas, agora, graças a você, eu a encontrei, você a trouxe até mim, agora, ela e eu ficaremos juntos". Senti que ele estava sendo sincero. Olhei para minha avó e ela sorriu, ainda dormindo. Eu despertei. Não posso deixar de pensar sobre isso, que conheci esse rapaz em uma vida passada e, certamente, impedi que ele ficasse com o amor de sua vida, minha vó. Fiquei triste por ele. Contei o sonho para a minha vó e ela acreditou em mim. Só espero que esse espírito encontre a paz e que eu consiga dormir no escuro sem medo, porque, ainda tenho medo de apagar a luz e ele voltar. ©


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