terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Elfos raptores

      Os elfos, segundo as crenças celtas, raptam e deixam prisioneiros em seu reino os homens.
    Eis aqui o relato de uma lenda escocesa recolhida por Walter Scott, que ilustra a crença:

     Um tecedor perde sua mulher. Essa morre entre convulsões e seu cadáver fica tão desfigurado que os vizinhos pensam que os elfos a raptaram e substituíram seu verdadeiro corpo. Quando o tecedor está considerando seriamente voltar a se casar, sua esposa morta lhe aparece numa noite e diz que não está morta, mas sim cativa dos elfos e, que pode, se ainda a ama fazê-la voltar daquele triste reino de "Elfland". Porém, o homem acaba não fazendo o que o fantasma lhe pede.
   Outro relato foi recolhido na Dinamarca: Um camponês perde sua mulher. Uma noite em que passa perto de um Monte de Elfos vê sua esposa dançando com outras pessoas. Como ele a chama pelo nome, ela se vê obrigada a segui-lo, porém a sua vida não voltou a ser como antes: a mulher não parava de chorar na cozinha. O mais simples dos mortais que tenha ocasião de conhecer o País dos Elfos, jamais vai se recuperar, pois dizem que a experiência é tão deslumbrante, fazendo com que a vida humana não seja mais interessante. Isso deve-se, por serem os elfos os mais perfeitos músicos e dançarinos que aos olhos e ouvidos humanos não existe nada mais belo de ser visto e ouvido na terra. Lembrando que isso só vale para quem vai para a Terra dos elfos bondosos, pois a Terra dos elfos maldosos é um lugar ao qual nenhum mortal desejaria permanecer por muito tempo.

     As histórias de raptos de seres humanos por parte dos elfos abundam muitas crônicas populares na Europa. Walter Scott conta-nos assim o testemunho de um tal Pennant, raptado para uma viagem de observação que ocorreu em 1769:


 Um pobre visionário que estava trabalhando em Breadalbane, foi levado pelo ar e passando por cima de um muro à um campo de trigo contínuo. Rodeavam-lhe uma multidão de homens e mulheres, entre os quais reconheceu várias pessoas mortas há muitos anos. Essas pessoas iam e vinham como abelhas sobre a plantação, roçando apenas a ponta do trigo, falando uma língua desconhecida com uma voz cavernosa. Foram lhe empurrando rudemente em todas as direções, porém quando murmurou o nome de Deus desapareceram todos, salvo uma mulher que bateu em seu ombro e o obrigou a aceitar um encontro para às sete da tarde daquele mesmo dia. O homem viu então que seus cabelos estavam atados com duplos nós (conhecidos como "anéis de elfos") e quase já tinha perdido o uso da palavra. Manteve sua promessa e ficou esperando a mulher que chegou voando. Ela pouco falou, pois tinha muita pressa e não poderia ficar com ele, e ordenou que partisse, afirmando que nada de ruim iria lhe acontecer.

 Orfeu e Eurídice no País dos elfos


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  Segundo ainda, crenças celtas, é para o País dos Elfos que vão, voluntariamente ou não, os mortos. Todo mundo conhece a célebre lenda de Orfeu e Eurídice. É sabido que o músico grego não vacilou em descer até o fundo dos Infernos para buscar a esposa morta. Entretanto, uma lenda celta conta que o lugar onde Eurídice estava prisioneira não era os Infernos, mas o País dos Elfos. Orfeu, rei da Trácia, ao norte da Grécia, encontrou um dia sua mulher Eurídice chorando nos jardins de seu palácio. Eurídice lhe contou que havia adormecido à sombra de uma árvore utilizada para enxertos (essas árvores eram conhecidas por demarcar as fronteiras entre o mundo dos humanos e o povo do Reino das Fadas), e havia sonhado que um rei dos elfos vinha buscá-la para conduzi-la, através de uma escura galeria, até seus domínios encantados. Depois a conduziu de volta até sua árvore e ordenou, sob pena de um terrível castigo, que no dia seguinte lhe esperaria naquele mesmo lugar. Eurídice não se atrevia a desobedecer o senhor élfico e estava bem decidida a esperar sua triste sorte junto à árvore. Para conjurar a sorte, Orfeu fez guardar a árvore por seus melhores soldados, porém no dia seguinte, ao meio-dia, Eurídice desapareceu no ar, levada pelo rei dos elfos. Louco de dor, o rei da Trácia abandonou seu trono e se tornou ermitão, não levando consigo mais do que uma lira. Se dizia que sua música era tão bela que as lebres deixavam de correr e os pássaros de cantar. As vezes, Orfeu assistia as cavalgadas das fadas e dos elfos que galopavam pelo campo, e ouvia o som de seus cornos de caça. Um dia viu passar em sua frente umas belas fadas caçadoras, montadas em cavalos brancos e levavam cada uma um falcão na mão. Orfeu as seguiu correndo. Observou como deslizavam até o interior de uma rocha e desapareceram num túnel escuro. Seguindo-as chegou até uma clareira verde onde deparou-se com um maravilhoso castelo de torres brancas. Orfeu entrou no tal castelo e descobriu uns mortais dormindo nas posições que estavam quando os elfos os raptaram. Havia guerreiros combatendo, crianças brincando, mulheres ocupadas fiando... Todos estavam imóveis, com o gesto detido na eternidade de um instante. Chegou finalmente ao pátio central do castelo, e nele estava o rei dos elfos perto de Eurídice, que dormia embaixo da árvore, exatamente na mesma posição que estava há dez anos no palácio de Orfeu. O rei-músico da Trácia se inclinou então, ante ao soberano dos elfos e se ofereceu para tocar-lhe uma música. Então Orfeu pegou sua lira e tocou uns acordes tão belos que o próprio rei dos elfos ficou maravilhado. E, quando o mortal parou de tocar, o príncipe élfico lhe rogou para continuar com a música, prometendo lhe conceder uma recompensa como pagamento de seus serviços. Orfeu se pôs a tocar de novo e logo, quando chegou o momento, reclamou o que lhe devia: a mulher adormecida à sombra da árvore. Então o rei dos elfos tentou retratar-se: -"Não pode ser, seria um casal muito desigual. Ela é jovem e bela, e tu és velho e desgastado. Seria indecoroso ficarem juntos". Porém Orfeu replicou; "Todavia seria mais indecoroso para vós não cumprir vossa promessa". Preso ao trato, o elfo libertou a Eurídice de seu encantamento. A jovem acordou e se jogou nos braços de Orfeu, que a levou consigo através do escuro túnel. E, enquanto alguns autores afirmam que a perdeu de novo naqueles labirintos escuros, outros afirmam que regressaram sem problemas até a luz do mundo dos humanos, voltando a seu reino e viveram felizes o resto de sua vida.


Sobre a Autora:

Daniele Claudino nasceu em 1992, em Campo Grande – MS, onde, ainda vive atualmente. Fascinada por seres mágicos e sobrenaturais. Seu primeiro livro, O Amanhecer Das Feiticeiras foi publicado pela Editora Viseu, em 2018.

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